segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Análise do geógrafo William Passos

 

*Economia de Campos entre as que mais cresceram no Brasil em 2021, segundo o IBGE*

 

Por William Passos

 

Maricá, que se tornou o 8º Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, foi o município cuja economia mais cresceu no país entre 2020 e 2021, registrando ganho de participação no PIB de 0,5 ponto percentual (p.p.) e alcançando um volume, a preços correntes, de R$ 85,8 bilhões. Na sequência, Saquarema, com crescimento de 0,3 p.p.; Niterói, com +0,2 p.p.; e Campos dos Goytacazes, com +0,1 p.p., mesmo resultado do município paulista de São Sebastião, foram os municípios que mais cresceram economicamente no Brasil. Os números são do PIB dos Municípios Brasileiros 2021, divulgado nesta sexta-feira (17), pelo IBGE, e foram tabulados por mim.

Com isso, no Estado do Rio de Janeiro, o PIB de Saquarema (28º do Brasil) encerrou o ano de 2021 totalizando um volume, a preços correntes, de R$ 42,2 bilhões. O PIB de Niterói encerrou 2021 com o total de R$ 66,3 bilhões (13º do Brasil) e o de Campos foi a R$ 37,2 bilhões (31º do Brasil).

De acordo com a avaliação do Nuperj/Uenf, (Núcleo de Pesquisa Econômica do Estado do Rio de Janeiro), coordenado pelo professor Alcimar das Chagas Ribeiro e que também conta, em sua equipe, com a participação do economista José Alves de Azevedo Neto, os municípios que mais cresceram no Brasil foram exatamente os maiores produtores de petróleo das bacias de Campos e de Santos, cuja produção econômica ocorre nas plataformas marítimas costeiras, localizadas na plataforma continental.

Com isso, a riqueza do petróleo materializa-se na economia dos “municípios produtores” sob a forma das receitas extraordinárias do petróleo, isto é, royalties e participações especiais sobre a produção na plataforma continental. As exceções ficam por conta dos municípios que abrigam as bases de apoio à produção, no caso fluminense, Macaé e Rio das Ostras – onde se localizam as empresas do complexo de exploração e produção da Bacia de Campos –, além de São João da Barra – onde se localiza o importante Porto do Açu, um dos maiores da América Latina em volume de movimentação de cargas.

Entretanto, dos três municípios, apenas Macaé apareceu entre as 100 maiores economias do país em 2021, situando-se na 76ª colocação, com o PIB total de R$ 17,7 bilhões. São João da Barra (PIB total de R$ 9,9 bilhões), por sua vez, embora não tenha se posicionado entre os 100 maiores PIBs do Brasil, alcançou a condição de 24º PIB per capita do país, com uma riqueza somando R$ 269 mil por habitante. Também no ranking dos 100 PIBs per capita do Brasil, Quissamã alcançou posição de destaque, situando-se como o 34º colocado no país (R$ 235 mil por habitante).

Rio das Ostras, entretanto, não se destacou entre os 100 maiores PIBs em valores absolutos (PIB total de R$ 8,9 bilhões, atrás de São João da Barra), nem entre os 100 maiores PIBs per capita (56 mil por habitante).

O petróleo é um recurso finito e suas receitas extraordinárias são temporárias. Por isso, há a necessidade de diversificação da estrutura econômica dos municípios litorâneos fluminenses, solução que passa pelo aumento do investimento das prefeituras, pela dinamização da economia local já estabelecida e pela atração de novos investimentos.

Em julho de 2023, o Nuperj/Uenf apresentou à sociedade o Índice de Dinâmica Local (INDEL), que se propõe a medir a dinâmica econômica local de cada município. O INDEL utiliza cinco variáveis: investimento público municipal, arrecadação do ICMS, emprego e renda no comércio, movimentação bancária e a vulnerabilidade social, que inclui a população em situação de pobreza.

Entretanto, gostaria, neste espaço, de chamar a atenção para a economia de Campos, contabilizada entre os PIBs que mais cresceram no Brasil em 2021. É muito importante que este resultado seja recebido como um alerta. O posicionamento de Campos no ranking do PIB nacional é fruto muito mais da produção de petróleo e gás na plataforma continental do que do dinamismo da economia territorial do município. Por isso, a necessidade de se pensar, debater e operacionalizar uma alternativa econômica para o município e a Região. Felizmente, temos muitas potencialidades, mas não gostaria de apontar caminhos. Penso que o momento é o da construção coletiva, o que passa pela necessidade de escuta da sociedade civil. E não somente ela.

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