O papel das atividades petrolíferas na indústria geral do estado do Rio de Janeiro
O setor industrial fluminense se arrasta e mostra toda a sua fragilidade, especialmente, na indústria de transformação. A taxa de crescimento da produção industrial geral nos dois primeiros meses de 2022, registrou crescimento de 2,8% em janeiro e crescimento de 1,4% em fevereiro, com relação ao mesmo mês do ano anterior. Apesar das taxas positivas, é bom lembrar que as mesmas foram calculadas sobre uma base extremamente fraca, pressionada pela pandemia. Em janeiro de 2021 a taxa de crescimento foi negativa de 4,9% e em fevereiro a taxa foi negativa de 3,8%.
As taxas de crescimento nos dois primeiros meses de 2019 também foram negativas e muito diferentes das taxas do primeiro bimestre de 2020, antes do anúncio da pandemia, quando foi registrado crescimento de 9,5% em janeiro e crescimento de 10,0% em fevereiro.
Buscando uma explicação para as altas variações nesse período, chegamos à indústria extrativa que cresceu 27,6% em janeiro e cresceu 27,0% em fevereiro de 2020, considerando o mesmo período do ano anterior. Por outro lado, podemos identificar diferentes taxas na indústria de transformação, que registrou crescimento de 0,2% em janeiro e crescimento de 1,9% em fevereiro. Esses números não deixam dúvidas sobre a importância das atividades petrolíferas na dinâmica econômica do estado, muito embora elos importantes de sua cadeia produtiva esteja fora do território fluminense.
O forte crescimento da indústria extrativa no primeiro bimestre de 2020, vem na esteira da evolução do crescimento da produção de petróleo. Em dezembro de 2019, a produção atingiu um total de 92 milhões de barris, volume maior 29,6% em relação a dezembro do ano anterior. Claramente a expectativa de investimento continuado foi quebrada pelo anúncio da pandemia em março de 2020, fato responsável pela desaceleração da produção que atingiu 89 milhões de barris em dezembro de 2021, número menor 3,26% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Entretanto, com a flexibilização da pandemia, em função do avanço da vacinação no país, a recuperação da produção começou a ocorrer em 2022. Em janeiro a produção atingiu 94 milhões de barris, em fevereiro atingiu 83 milhões de barris e em março 95 milhões de barris, projetando boas perspectivas adiante.
Há de se considerar, entretanto, o interesse por investimentos no pré-sal, fora da Bacia de Campos e mais ao sul do estado, onde municípios como Niterói, Saquarema e Maricá são beneficiários dos royalties e participações especiais da alta produtividades dos campos petrolíferos.
Os dados relativos à geração de emprego formal são compatíveis com o quadro anterior. Em 2019, antes da pandemia, o estado gerou um saldo de16.829 novas vagas de emprego com forte participação de 40,6% do setor de serviços, sob influência da atividade petrolífera. Em 2020, já com o aprofundamento da pandemia, o estado eliminou 150.812 empregos com participação relativa de 69,8% do setor de serviços. A recuperação veio com a evolução da vacinação e o abrandamento dos casos de Covid-19 em 2021, quando o estado criou um saldo de 180.882 vagas de emprego formal, com uma participação de 83,1% do setor de serviços.
Um outro dado complementar à análise são as fortes oscilações no preço do barril de petróleo internacionalmente. Em dezembro de 2019 a cotação da commodity atingiu US$66,65 o barril, com crescimento de 1,12% no ano. Em 2020, quando declarada a pandemia, a cotação atingiu US$51,43 o barril em dezembro, com crescimento de 3,19% no ano. Em 2021 ocorreu uma recuperação importante com a cotação batendo US$79,07 o barril em dezembro, com crescimento de 56,17% no ano. Em 2021 a cotação de março foi US$105, 47 o barril, com crescimento de 17,96% no ano.
Como o estado do Rio de janeiro concentra o equivalente a 76% dos negócios com petróleo no total das exportações, a movimentação crescente da cotação internacional é um incentivo a novos investimentos, e foi o que orientou a indústria extrativa ao logo do período analisado. Conforme já indicamos, são favoráveis as expectativas para a indústria extrativa fluminense, entretanto a indústria de transformação parece permanecer à deriva e sem perspectivas para o curto e médio prazo.
As ideias sobre a reorganização produtiva fluminense, a partir da concepção endógena, no contexto do território e com a utilização das vantagens comparativas regionais, tomam vulto e merecem ser debatidas com maior profundidade.
Alcimar das Chagas Ribeiro, economista, professor da UENF e diretor do NUPERJ
Campos dos Goytacazes, 02 de maio de 2022.