Seminário da UFF – dia 17/10/2023
Disciplina: Desenvolvimento,
Ambiente, Políticas Públicas, Conflito e Cidadania.
Professores: Jorge
Natal e José Luís Vianna da Cruz
Aluno: José Alves
de Azevedo Neto
Texto: O RIO DE
TODAS AS CRISES
Seção IV – A Outra Raiz da Crise – pg. 36
No imaginário
carioca dois fatos foram responsáveis pela crise econômica e financeira do
estado do Rio de Janeiro: a transferência da capital do país para Brasília e a
fusão do antigo DF ao antigo ERJ.
Havia clima para
fusão nos anos 70, sobretudo, por parte da classe empresarial que vislumbrava a
possibilidade da junção entre a base técnica do antigo estado da Guanabara e os
potenciais produtivos do antigo estado do Rio de Janeiro. (Araújo 1994: 235)
Tal otimismo
decorria da crença de que o governo federal elaborando um novo desenho
industrial desconcentrado para o país. Reduziria a importância da indústria
paulista no contexto nacional e simultaneamente, elevaria a importância da
indústria no novo estado na região Sudeste.
E, por fim, esse
mesmo empresariado particularmente o carioca, considerando o conservadorismo
político do outro lado da baía (Niterói), ao reforçar a estratégia geopolítica
geiselista de distenção lenta, segura e gradual (Lessa 1978), dado o mencionado
ônus econômico do município sede, em razão da transferência da capital federal
para Brasília, achavam que o governo federal iria compensar o município sede
com incentivos fiscais.
O que dava
certeza a classe empresarial dessa possiblidade, eram alguns indicadores
importantes no estado, como por exemplo: obras concluídas e anunciadas tocadas
com recursos federais, como: Ponte Rio Niterói, Porto de Sepetiba, Usina de
Angra dos Reis, Rio-Santos, Novo Galeão, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
fortalecendo, com isso, o diagnóstico da classe empresarial.
A euforia da
classe empresarial era ilustrada pelo fato do município sede, na primeira
metade dos anos 70, possuir vocações importantes, no que tange ao aspecto
financeiro, polo industrial de ponta e ser provedor de serviços. Eles
alimentavam a certeza de que esse cenário seria levado adiante pelo governo
federal, através de ajudas financeiras, compromisso assumido com a nova unidade
federativa. Em face disso, o governo federal não deixaria tal estrutura morrer.
Ademais, o Brasil vivia sob o signo do Brasil potência e da ideologia
desenvolvimentista.
O que contribuiu
para tal otimismo também foi que a crise financeira e fiscal da União ainda não
era visível. Porém, a implantação da fábrica da Fiat em MG e a saída da IBM do
RJ, acordou o empresariado.
Todavia, essas
duas perdas acenderam as luzes amarelas e anunciaram o por vir. Assim, na
entrada dos anos 80 as luzes vermelhas acenderam de vez.
Marca-se aí, o
fim do relativo otimismo dos anos 70 para o fim do ufanismo oficial, e nasce
agora o discurso formulado por parte do empresariado que atribuiu à crise a
falta de uma consciência regional que aglutinasse as elites em torno de um
projeto comum de desenvolvimento (Araújo 1994:247).
E, assim, a crise
foi reconhecida, e se afinou uma tese, de que ela derivaria da falta de
capacidade das elites (quais?) em situarem o RJ (o estado ou MS?) como uma
questão regional específica. Começa a nascer então o desejo do regionalismo.
Não surpreende
que os empresários ainda consideravam a causa da crise, a perda da capital para
Brasília e a fusão, concentrando suas análises e proposições nas lutas pelos
fundos públicos federais.
Por conta das
cobranças frustradas de caráter patrimonial ao governo federal passam doravante
a culpar, como os grandes responsáveis pela crise, outras elites, em especial a
política e governantes, de antes e daquele momento.
Enfim, pode-se
dizer, no final dos anos 70 e início dos 80, constituiu um ensaio geral das
lutas de classes que se seguiria, maquiada pelo mote do estado-região. Aqui
mais uma vez se confirma o traço regionalista da classe empresarial.
Ser sede do país
ajudou o RJ, a pousar de não regionalista, tendo em vista a fama de que o
carioca só se preocupava com as grandes questões nacionais, o que em parte era
verdadeira, certamente não era na sua plenitude, tanto que quando a crise se
instalou com toda virulência veio à cena social, o regionalismo ainda que pouco
orgânico.
IV. 2- ainda a história recente e a elaboração
discursiva de classes
Neste contexto é
criado o Instituto de estratégias do Estado do Rio de Janeiro, o Clube do Rio.
Sua missão era articular o empresariado fluminense, criar uma ideologia e
atuação de base regional: no seu âmbito surge à tese do estado-região,
elabora-se o discurso do esvaziamento econômico, enquanto obra política.
A despeito deles
defenderem a economia do estado, na prática eles defendiam os interesses dos
empresários da capital, principalmente do município sede.
As propostas eram
criar uma bolsa de mercadorias na cidade do Rio, estabelecer diretrizes que
garantissem o segundo lugar no cenário nacional da indústria do Rio no município
sede e incentivar a atração de conglomerados financeiros.
Segundo Natal
tais propostas não tinham como obter êxito. O objetivo delas eram a defesa dos
interesses de seguimentos do empresariado, com destaque para o comércio,
finanças e indústria naval do município sede.
Com o
aprofundamento da crise dos anos 80, a eleição de Brizola e de João Donato na
FIRJAN, o Clube do Rio promoveu seminário sobre as vocações econômicas do RJ,
leia-se município sede.
Na verdade em
face do novo quadro político, econômico e institucional, eles queriam emparedar
o governo federal e estadual em busca de vantagens pecuniárias, olhando sempre
os seus interesses. E, posteriormente, fazer o sucessor de Brizola, Moreira
Franco, alinhado com os interesses da classe.
O diagnóstico
estava errado e no governo de Moreira Franco a crise refluiu. E em 1988 veio o
golpe fatal, que foi a manifestação da intenção de transferência das
instituições financeiras, agências sediadas na região fluminense para São Paulo.
IV-2-1 – Sobre a história recente e as
aproximações discursivas de classes; escapismos, escapismos e escapismos.
Surgem os escapismos socialmente construídos:
A vocação natural do estado para centro
financeiro. Os empresários não entendiam as mudanças que vinham ocorrendo na
economia brasileira e a consolidação de São Paulo como centro industrial e
financeiro desde 70. Eles culpavam a classe política do estado pelas perdas,
sobretudo da Bolsa de Valor. Achavam que a intervenção política junto aos
grandes grupos financeiros ajudaria reverter à saída das aludidas empresas.
A
segunda foi à vocação turística. Os empresários do setor invocava a violência
urbana para justificar a perda de dinamismo econômico do setor.
A terceira. Diz
respeito às perdas financeiras do Rio, elas decorriam da transferência da
capital para Brasília, junta-se a isso, a fusão como golpe fatal na autoestima da
população do município sede “como
assumir uma identidade que não corresponderia os fatos, de passar a ser
fluminense quando historicamente se foi carioca”. Então, no imaginário da sua
população, e não apenas da sua elite, permanecia sendo o Rio Cidade.
A quarta enquanto desdobramento da
anterior. A incompetência dos governos e lideranças políticas estaduais que não
sabia se mover no terreno movediço das guerras dos recursos fiscais de natureza
federal, ou seja, a obtusidade política ideológica que jogava o poder central
contra os interesses do Rio.
Considerações finais:
I-que a crise da
sociedade fluminense de 82 a 94 foi longeva, profunda, complexa, evidenciada
nas várias expressões da vida social fluminense;
II-que a
degradação econômica da região fluminense se iniciou no final do século
retrasado e simultaneamente emerge uma verdadeira economia e sociedade
capitalista em São Paulo, com sua teia de articulações econômicas para frente e
para trás;
III – que a
degradação econômica do ERJ está no modelo econômico frágil adotado e afiançado
pelos empresários, em face de outros estados;
IV- e o discurso
Rio como voz da nação foi largamente empregado em nome dos interesses
patrimoniais;
V- a perda da
capital da república, apenas, agravou uma crise histórica de fragilidade da
economia fluminense.
Referências bibliográficas:
· Natal, J. Texto
Rio de todas as Crises.
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