A
crise de 1930 e o avanço da industrialização brasileira
·
A
GRANDE DEPRESSÃO
Foi uma
crise econômica de abrangência mundial, responsável por abalar a estrutura do
sistema capitalista no ano de 1929.
Ela perdurou
até 1933. As suas consequências na sociedade da época foram devastadoras,
sobretudo, no que diz respeito ao custo social gerado, onde vários países
tiveram altos índices de desempregos. Importa salientar no ensejo, antes desta
segunda depressão econômica, já havia ocorrido outra no período circunscrito de
1873 a 1896.
No
caso específico do Brasil, a aludida catástrofe, facilitou o processo de
industrialização da economia brasileira, porque acabou enfraquecendo a
burguesia agrária nacional, dos latifundiários produtores de café e com grande
influência na política do país.
Pois,
o principal produto da pauta de exportação nacional, o café, teve o seu preço
aviltado em função da retração da demanda agregada de bens e serviços, no
cenário internacional. E, com isso, os fazendeiros amargaram expressivos
prejuízos e muitas falências ocorreram.
O
Brasil, então, passa a trilhar o caminho da implantação de indústrias,
preliminarmente através da substituição de importação, dos bens não duráveis,
como alimentos e tecidos, e posteriormente, evoluiu para os bens duráveis.
· A POLÍTICA DE DEFESA DO CAFÉ
Por
conta da importância da economia cafeeira no Brasil, a Grande Depressão de
1929, afetou frontalmente o principal produto da pauta de exportação brasileira,
o café.
O
Brasil, respondia por ¾ das exportações mundiais dessas commodities, e o nosso
maior comprador eram os Estados Unidos.
Então,
para manter a renda dos fazendeiros de forma que eles pudessem continuar
investindo em mais produção. O governo praticava uma politica de desvalorização
cambial, no momento em que os preços do café no mercado internacional entravam
numa trajetória de queda.
Tal politica
cambial favorecia o setor, e como consequência dela, problemas surgiu para a
economia doméstica, devido a nossa enorme dependência dos produtos importados, eis
que em face dessa conjuntura econômica de depreciação da moeda, ficaram mais
caros.
Todavia,
importa destacar, a principal dificuldade enfrentada pela cafeicultura do
Brasil, residia na superprodução, pois mesmo o mercado mundial retraindo-se, no
que tange a demanda, os produtores de café continuavam elevando sua oferta.
Em
função desse contexto, a politica cambial praticada pelo governo, perdeu
eficácia e o Estado, então, passou a implementar outro repertório de políticas,
como por exemplo, a aquisição do excedente de produção, e por ultimo incentivou
a queima da produção. Porque, os mecanismos de política pública de proteção do
preço do café, já se encontravam no seu ponto de exaustão.
Por
derradeiro, urge necessário deixar claro, a sociedade da época ou o Estado
financiavam largamente, os lucros dos fazendeiros de café. Ou seja, a elite
econômica dos latifundiários se apropriou do Estado em detrimento das políticas
públicas, voltadas a sociedade.
· O CRESCIMENTO INDUSTRIAL DURANTE A
GRANDE DEPRESSÃO
A Grande
Depressão se configurou como oportunidade, de desenvolvimento da indústria
nacional. Já que, a economia brasileira através do fortalecimento do mercado
interno pôde elevar a demanda agregada dos bens e serviços. Apenas a guisa de
lembrança, antes eles eram comprados do exterior.
Como
decorrência do contexto de política macroeconômica, adotado pelo governo, de
desvalorização da moeda nacional em face da internacional, as importações ficaram
mais caras e as consequências foram à queda de 60% delas, que saíram do patamar
de 14% para 8%. Tal conjuntura, não atrapalhou o processo de industrialização,
no que diz respeito, as importações de bens de capital e nem inviabilizou o
ritmo da oferta de produção industrial.
Pois,
a indústria nacional sendo pressionada pela procura interna dos consumidores
pelos seus produtos, encontrou uma saída de curto prazo, que pudesse mitigar o
impacto da política cambial governamental.
Através da importação de máquinas e equipamentos, de segunda mão, tendo
em vista que a Grande Depressão levou a falência de várias empresas no âmbito
internacional. E esse fenômeno facilitou as aquisições.
A
guisa de esclarecimento, o setor que mais adquiriu equipamentos do exterior foi
o de tecido.
Para
melhor explicação, sobre a dinâmica do mercado interno durante a crise de 1929 Furtado
destaca:
“(...) o
fator dinâmico principal, nos anos que se seguem à crise, passa a ser sem
nenhuma dúvida, o mercado interno. A produção industrial, que se destinava em
sua totalidade ao mercado interno, sofre durante a depressão uma queda de menos
10%, e já em 1933 recupera o nível de 1929.” (Economia brasileira, pg.71).
· CELSO FURTADO E O MODELO DE
INDUSTRIALIZAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES:
Nesta
seção Furtado, fortalece e reitera a relevância da Grande Depressão para o
processo de industrialização brasileira. O que possibilitou, inclusive, o
rompimento do modelo primário- exportador praticado há décadas no país no que
se refere às relações comerciais com o resto mundo.
Com
isso, a indústria nacional nascente aprofunda o processo de substituição das
importações, cuja duração vai até o governo JK e o seu Plano de metas.
A
economia brasileira em razão desse novo e ousado momento eleva a renda interna
e passa também a produzir bens que nem eram importados anteriormente.
Assim,
dispara Maria da Conceição Tavares, no
Clássico Da substituição de importações ao capitalismo financeiro, segue
basicamente as posições de Furtado, caracterizando a Grande Depressão como “o
momento de ruptura com o modelo primário- exportador da economia brasileira em
favor de um modelo de desenvolvimento voltado para o mercado interno. O
conceito de substituição de importações, além de significar o início da
produção interna de um bem antes importado, denota também uma mudança
qualitativa na pauta de exportações do país.” (Economia brasileira, pg., 72 e
73).
· O ESTADO NOVO E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Getúlio
Vargas, eleito indiretamente pela Assembleia Nacional Constituinte em 1934,
cujo mandato terminaria em 1938. Resolveu em 1937 dar um golpe militar. Este
período ficou caracterizado na história do Brasil, como a ditadura do Estado
Novo que perdurou até 1945. Foram dissolvidos o Parlamento, as Assembleias
Estaduais e as Câmaras Municipais.
Diante
isso, o poder ficou centralizado apenas sobre uma pessoa, a do ditador Vargas.
Que fomentou o desenvolvimento econômico brasileiro utilizando o Estado, como
indutor.
Várias
agências foram criadas, com o objetivo de regulamentar a atividade econômica. A
ação estatal na economia ficou mais intensa e a inauguração da siderúrgica de
Volta Redonda, marcou significativamente o aludido período.
Vivia-se
nesse contexto, uma retração dos investimentos das grandes multinacionais nas
economias consideradas subdesenvolvidas ou de capitalismo tardio, como a
brasileira.
Tal
conjuntura reforçou ainda mais, o atual modelo desenvolvimentista de Vargas.
No
que diz respeito às importações, “logo
após o golpe de 1937, o forte aumento das importações – da ordem de 40% entre
1936 e 1937- provocou escassez de divisas e forçou o governo a adotar o
monopólio cambial com uma taxa única descentralizada e com um sistema de
controle cambial similar ao vigente entre 1931 e 1934.” (Economia
brasileira, pag. 75).
E,
ainda, importa salientar, somente após 1941 com o início da segunda guerra
mundial, o Brasil entra numa trajetória onde a Balança Comercial começa a ter
superávit, através da expansão das exportações aos países aliados. Outro
aspecto relevante que também merece ressaltar relaciona-se a recuperação do
preço do café.
Continuando,
a despeito das importações terem reduzido, por conta da diminuição da produção
industrial que entre 1939 /1942 cresceu somente 1,6% ao ano, voltou a crescer
mesmo com a escassez de insumos e de bens de capital importados, como veremos
abaixo:
A taxa de crescimento do produto
industrial, que havia caído em 1937/39 para 6,5% ao ano, caiu em 1939/1942 para
1,6%. Entre 1942 e 1945, quando a escassez de insumos e de bens de capital
tornou-se séria, a taxa média de crescimento foi de 9,9%, comparável à que se
verificou entre 1933 e 1939.
O produto agrícola médio 1940/42
praticamente estagnou em relação ao de 1936/1939; a recuperação pós- 1942 fomos
modestas, pois o produto agrícola médio de 1943/1945 foi apenas 8% superior ao
de 1936/1939. Assim, a taxa de crescimento do PIB, que já havia caído a 3,5% ao
ano em 1937/39, atingiu 0,4% ao ano em 1939/42, antes de recuperar-se para 6,4%
ao ano em 1942/45. (Economia brasileira, pg. 76)
· O PÓS-GUERRA E O CRESCIMENTO INDUSTRIAL
Despois
da segunda guerra inicia-se no país, o governo Dutra e o seu ideário ortodoxo
na economia, em contraposição ao intervencionismo de Vargas.
Nesse
momento histórico os Estados Unidos se constituem no contexto geopolítico
mundial como a potência capitalista dominante.
O governo
Dutra, então, aproveita a oportunidade para implantar a sua politica cambial
liberal, e com isso, tentar equilibrar o balanço de pagamentos brasileiro. A
taxa de câmbio foi mantida praticamente com a paridade de 1939 (Cr$ 18,5/US$),
e o mercado livre foi instituído, com a abolição das restrições e do controle
do fluxo de divisas, por parte do governo central, existente desde 1930.
(Economia brasileira, pg. 76).
Concomitantemente,
a política macroeconômica acima, o governo Dutra, centrou fogo na inflação que
estava em ascensão, chegando em 1944 a 20% e 15% em 1945. Utilizando, o
receituário ortodoxo.
Todavia,
em face da dificuldade de se manter a ortodoxia da política econômica, em 1947,
o governo voltou a controlar o câmbio, enquanto o país enfrentava uma profunda
crise de escassez de moeda estrangeira, sobretudo de dólares. “O sistema de licenciamento de importações
reduziu o déficit comercial de US$ 313 milhões, em 1947, para 108 milhões, em
1948, resultando em um superávit de US$ 18 milhões. Com a recuperação do preço
café no mercado externo, a partir de 1949, a balança comercial passou a
apresentar superávits expressivos.”
Por fim
cabe ressaltar, uma taxa de câmbio sobrevalorizada, a partir de 1947 e o
controle cambial favoreceu sobremaneira o processo de substituição de
importações, seguindo ainda de algumas medidas, como por exemplo: “subsídio às
importações de bens de capital e bens intermediários; protecionismo contra a
importação de bens competitivos; e aumento da rentabilidade da produção para o
mercado interno.” Apenas, para acrescentar: a despeito da pouca importância do
governo Dutra à industrialização, a política de crédito subsidiada do Banco do
Brasil, ao setor industrial ajudou bastante a esse segmento relevante da
economia nacional. “O crédito real à indústria cresceu 38%, 19%, 28% e 5%, nos
anos de 1947, 1948,1949 e 1950, respectivamente. (Economia brasileira, pg. 77).
·
Referências
bibliográficas:
1- Lacerda,
Antônio Correa et al. Economia Brasileira. São Paulo. Editora Saraiva 2000.
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