· CONSOLIDAÇÃO DAS CONDIÇÕES PARA O
DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL
A
transição de uma economia agrária como a brasileira para a de viés capitalista,
encontrou algumas dificuldades, incomuns, quando se trata de
economias consideradas avançadas para época.
Um
dos grandes problemas enfrentados no nosso rincão, para transformação da
economia do Brasil em capitalista, estava relacionado à dificuldade de
contratação de mão de obra remunerada. Pois, a imensa maioria da população
vivia no campo no final do século XIX.
O
mercado de trabalho nessa conjuntura acabou piorando, do ponto de vista da
oferta de mão de obra, em razão da chegada ao país, dos imigrantes europeus.
Eles possuíam melhores qualificações e disciplina no que tange a atividade
laboral. Essa vantagem comparativa em
relação à mão de obra local facilitava as contratações dos europeus em
detrimento dos trabalhadores brasileiros.
A
construção da estrada de ferro nos idos de 1852 desempenhou papel fundamental,
uma vez que incorporou várias zonas que anteriormente eram rurais. E, os trabalhadores
imigrantes assalariados contribuíram positivamente para a elevação da demanda
agregada de bens e serviços, produzidos pelo sistema capitalista incipiente. Por
fim, verificou-se elevada oferta monetária. Enquanto em 1851 a massa de moeda
em circulação era igual a 7 mil réis (0,85 da libra esterlina por habitante),
em 1889 este índice subiu para 15 mil réis (1,65 libras esterlinas por
habitante), demonstrando, com isso, uma maior circulação mercantil, no período
em tela.
Outro
ponto merece destaque, o relativo ao pequeno mercado interno existente e a
tímida economia financeira, pois asseguravam condições mínimas para o início da
produção capitalista, mas insuficiente para abrir caminho ao seu
desenvolvimento sustentável.
E,
ainda, no momento da derrocada do império a circulação do papel moeda era de
igual a 211 milhões de mil réis (cerca de 23 milhões de libras esterlinas)
valor 2,4 vezes inferior a fluxo de renda mercantil do mercado externo. Tal
valor era insuficiente para se fomentar agora uma economia que saiu do modelo
escravagista e entrar numa economia com base assalariada.
Então,
o governo republicano empossado, identificando, tal anomalia, resolveu emitir
moeda e privilegiar a criação de bancos e da bolsa de valores de São Paulo.
Esse comportamento acabou criando uma forte inflação no final do século XIX.
Acrescenta-se
ao contexto, a entrada de capital estrangeiro direcionada a obras de
infraestruturas, no final do século XIX. “No período de 1860 a 1889, por
exemplo, foram concedidas licenças para abertura de 137 companhias
estrangeiras, 111 das quais eram inglesas. A maioria esmagadora das empresas
foi criada na esfera financeira – bancos, companhias de seguros – e de serviços
– estradas de ferro, navegação, transporte urbanos, abastecimento de gás – e,
mais raramente, na indústria mineira” (Economia Brasileira, pg. 46, 2000).
· A FORMAÇÃO DA INDÚSTRIA
A formação da indústria nacional se deu
efetivamente no último quartel do século XIX. O fator determinante para que
desencadeasse na economia interna, o modelo capitalista foi à chegada em massa
dos imigrantes e sua remuneração, através de salários. Ou seja, de mão de obra
escrava passa-se a partir dessa conjuntura, a existir os trabalhadores
assalariados.
O
setor agrário nacional, no primeiro momento se insurgiu contra a
industrialização no país, uma boa parte dos fazendeiros.
Entretanto,
com o advento da crise econômica mundial de 1875 e a crise de superprodução do
café de 1880-1886, quando vários fazendeiros e empresários do ramo rural faliram.
Eles mudaram de ideia e avaliaram a relevância do Brasil se transformar numa
economia industrial e com relativa autonomia, em face do mundo. Tal situação
também reduzira a nossa dependência, no que tange a produção e exportação de
apenas um produto, no caso o café.
Importa
salientar no ensejo, no início da montagem da estrutura capitalista industrial e
com algumas famílias ricas se interessando em criar indústria. Principalmente, após
o governo implementar uma política fiscal restritiva e protecionista, através da
majoração dos impostos alfandegários fixados acima dos que foram estabelecidos,
no acordo assimétrico com a Inglaterra, cuja alíquota era de 15%. Uma pequena
parte dessa indústria não era considerada ainda capitalista, eis que os meios
de produção utilizados eram primitivos e a mão de obra não tinha remuneração,
portanto, o regime era de escravidão.
Por
fim, a argumentação a favor do desenvolvimento da indústria era a seguinte:
“O império graças a ela (indústria) não
só obteria a independência econômica, mas resolveria alguns de seus problemas,
pois atrairia braços e capitais estrangeiros, ocuparia uma população urbana
desocupada que poderia suscitar uma questão social, livraria a nação de sua
vulnerabilidade de uma economia monocultora e, abastecendo o mercado interno,
diminuiria a importação, aliviando a balança comercial”. (Economia Brasileira,
pg. 48, 2000)
· A CLASSE INDUSTRIAL
A
classe empresarial brasileira na sua imensa maioria advém de origem estrangeira
e é oriunda de proprietários de latifúndios. Ela nasceu no final do século XIX
e começo do XX.
Decorriam
dos comerciantes importadores e exportadores de bens e serviços, onde eles
acumulavam recursos financeiros com suas atividades comerciais, e destinavam
tal acumulação de capital para criar suas indústrias.
Os
primeiros ramos de negócios surgiram na área têxtil, sobretudo, na região
algodoeira de Itu em São Paulo. Depois, os imigrantes se enveredaram para o
nordeste do país, abrindo refinarias de açúcar, em substituição aos antigos
engenhos.
Varias
fábricas de cervejas, foram inauguradas no começo do século XX, tanto a da
cervejaria Antártica como a da Brahma. Demonstrando, com isso, o ímpeto dos
industriais à época.
Ainda
nesse contexto, uma boa parte dos segmentos industriais emergiram neste período,
via de regra, tais empreendimentos apresentavam interesses de bancos
estrangeiros interessados em expandirem suas atividades negociais no Brasil,
juntamente, com outros grandes grupos econômicos também de índole internacional.
Por
derradeiro, ressalta-se, todavia, dentro dessa realidade econômica, nasceu,
então, a estrutura industrial do nosso país.
· AS INDÚSTRIAS MATARAZZO
Francisco
Matarazzo chegou ao Brasil em 1881 e se instalou em Sorocaba (SP) e começou sua
vida de empresário criando e vendendo toucinhos. Nove anos depois já havia
acumulado um capital de 4,5 mil libras esterlinas.
Com
o sucesso da sua atividade empresarial mudou-se para São Paulo, onde ampliou a
sua frende de negócios. Criou, então, uma empresa comercial de importação de
farinha de trigo e toucinho.
Nos
dez anos subsequentes, ampliou ainda mais o seu patrimônio, sobretudo, após
conseguir uma grande linha de crédito no Britsh Bank of South America, quando
nessa oportunidade construiu o primeiro moinho a vapor em São Paulo.
Em
1904, Matarazzo fundou uma fábrica têxtil, para satisfazer sua própria
necessidade de tecidos para saco. E, assim, iniciou sua trajetória vitoriosa
construindo uma fortuna que se assemelhava ao orçamento do Estado de São Paulo.
Por conta
disso, destacaremos a guisa de exemplo a seguinte ilustração: “É fora de dúvida
(...) que o conde Matarazzo, financeira e economicamente, é o segundo ‘estado
de São Paulo”, lia-se em um jornal brasileiro da época.
· O GRUPO VOTORANTIM
Nasceu
através do português António Pereira Ignácio que era retalheiro, nos idos de
1892.
Com
o apoio de dois comerciantes importadores do Rio de Janeiro, fundou uma pequena
empresa de beneficiamento de algodão.
Depois
se deslocou para os Estados Unidos para aprofundar os seus estudos em
beneficiamento de algodão. Ao retornar ao Brasil ampliou em 1902 ainda mais sua
rede de empresas.
Lucrando
bastante com essa atividade, utilizou esses recursos, na aquisição de fábrica
de cimento, uma companhia telefônica e uma pequena central elétrica.
No
período da primeira guerra mundial ocorreu uma grande falta de matéria-prima,
no caso em tela o algodão. Pedro Ignácio se aproveitou desse momento e comprou quatro
algodoarias que estavam enfrentando dificuldades financeiras, juntamente, com o
imigrante italiano Nicolau Scarpa.
Em
1917, Pedro Ignácio e Scarpa, aproveitaram a falência do Banco União para
adquirir em leilão a empresa têxtil Votorantim, segunda empresa do ramo em São
Paulo, pagando por ela apenas a oitava parte do seu valor.
Nesse
mesmo ano, Pedro Ignácio compra a cota parte de Scarpa, e se torna proprietário
sozinho do grupo Votorantim e a empresa passa a ter 17% do mercado das
algodoarias.
Em
1925, o genro de Pedro Ignácio J. Ermírio de Moraes tornou-se diretor-gerente
da Companhia Votorantim, e depois seu único proprietário.
· OUTROS GRANDES GRUPOS INDUSTRIAIS
Outros grupos industriais foram surgindo no
limiar do século XIX e XX. Os avós dos maiores capitalistas do extremo sul do
Brasil fundaram várias indústrias, como por exemplo, a Renner abriu no rio
Grande Sul um matadouro, a Eberle inaugurou uma oficina mecânica em 1896 e a
Gerdau criou uma pequena oficina de fundição.
Foi
fundado no Rio de Janeiro o Moinho Fluminense, a primeira filial da companhia
argentino-alemã Bunge y Born. Depois a Bunge y Born abriu em Santos uma empresa
moageira e muitas outras companhias comerciais, industriais, de crédito e
finanças em São Paulo, Rio de Janeiro e no Nordeste.
Eram
estrangeiras também as grandes empresas de calçados, como a fábrica São Paulo
Apargatas, fundada em 1907 por capital anglo-americano.
Importa
salientar por derradeiro, foi nesse período que se ampliaram os investimentos
estrangeiros no nosso país. Como por exemplo, a Companhia canadense de energia
elétrica Brazilian Traction, Light and Power.
· APROFUNDAMENTO DA CRISE DA ECONOMIA
TRADICIONAL
O
modelo de desenvolvimento econômico adotado pela classe dominante no período
até 1930, os latifundiários, acabaram atrasando, a transformação da economia
pré-capitalista ou semi-feudal no Brasil.
A
economia nacional até esse momento foi estruturada para atender a demanda do
mercado externo de bens e serviços.
A
moeda nacional sofreu várias desvalorizações para que os nossos produtos
ficassem mais baratos, em face da economia mundial. Tal conjuntura contribuía
para o aumento da competitividade dos produtos nacionais, no exterior.
Quando
a economia mundial crescia, o fluxo de renda na economia doméstica melhorava, e
com isso, a elite hegemônica do país, pagava melhores salários aos seus
trabalhadores.
A
economia brasileira nessa época se mantinha dentro do contexto de exportação de
produtos primários e a camada mais aquinhoada da sociedade, satisfazia sua
necessidade de consumo, no que diz respeito, aos bens mais sofisticados através
das importações.
Enquanto
isso, as classes de menor poder aquisitivo sustentava o capitalismo industrial
nacional, formado de empresas de baixo valor agregado. Como, por exemplo, no caso
da indústria têxtil, de cervejas e outras.
Por
fim, a grande depressão econômica mundial, atingiu frontalmente a economia
cafeeira do país, principalmente, a do estado de São Paulo, região que tinha o
grande predomínio dessa atividade açucareira. Os preços da saca do café no
mercado externo despencaram o que inviabilizou a produção desse importante
produto da pauta de exportação brasileira. Como decorrência desse episódio de
ordem mundial, os fazendeiros produtores do interior paulista amargaram imensos
prejuízos e posterior falência.
·
Referências
bibliográficas:
1- Lacerda,
Antônio Correa et al. Economia Brasileira. São Paulo. Editora Saraiva 2000.
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