terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Por Douglas da Mata

 

Wladimir Matheus de Oliveira e a solidão do poder no deserto de ideias...


(PARTE 2).

Se fosse um país, e de fato Campos dos Goytacazes tem orçamento parecido com vários países da África, não seria incorreto dizer que o pântano do norte fluminense estaria acometido da "doença holandesa"...

Para quem não sabe, a explicação corriqueira pode ser definida assim:

- Um país descobre uma imensa riqueza (geralmente mineral), e passa à exploração deste recurso, sem preocupar-se com as repercussões em sua economia, e por óbvio, apesar da gigantesca riqueza inicial, esta entrada abrupta de recursos causa uma apreciação cambial (o valor da moeda desse país sobe), dificultando exportações (principalmente de produtos industrializados)...

Por outro lado, como consequência desse primeiro processo, a indústria do país definha, deixando este país à mercê dos preços internacionais dos itens de maior valor agregado nas trocas internacionais...

Em suma, o país morre de tanta riqueza...(mas as elites, por óbvio, ficam muito mais ricas, enquanto os pobres, ah, os pobres vocês já sabem...)

Claro, Campos dos Goytacazes não emite moeda, e não exporta nada...não é um país...

Porém, a comparação com a historinha aí em cima é inevitável, já que a enorme bonança que (ainda) irriga os cofres da cidade não trouxe nada, absolutamente nada como legado à população e à cidade, especificamente aos mais pobres...

Pense rápido: o que de importante, de realmente significativo e transformador na vida dos campistas, e dentre estes, os mais pobres, aconteceu como resultado da montanha de dinheiro dos royalties?

Eu não consigo lembrar de nada...

O desfile da Imperatriz Leopoldinense tendo a então primeira dama  como destaque?

Ah, a frota novíssima e um sistema de transporte público e um plano viário dignos de Amsterdã?

Recentemente, assistimos o prefeito da cidade buscar os meios judiciais para brecar a diminuição dos valores de repasses do Fundo de Participação dos Municípios, que é um dinheiro que a União transfere às cidades com base em sua população...

Com os dados preliminares do CENSO 2022, a cidade de Campos dos Goytacazes teve a quantidade de habitantes rebaixada, logo, o repasse será menor...

Não entremos no mérito se era correto a União reduzir agora, com os dados do CENSO ainda não consolidados, ou se tem que ficar para depois, mas o fato é que a população da cidade diminuiu...!!!!

Esta constatação é um assombro, e como já mencionamos, se fosse um país, Campos dos Goytacazes viraria "case" de estudos e teses internacionais e nacional...

Todo mundo sabe que as populações das regiões ao redor do planeta diminuem por algumas questões:

- Guerras, pestes, tragédias ambientais, etc;

- Pobreza extrema;

- Políticas governamentais, como fez a China e;

- Enriquecimento médio da população, já que sabidamente, países mais ricos tendem a ter sua taxa de natalidade decrescente, como acontece hoje com a Europa...

Porém NUNCA, eu REPITO, NUNCA uma região que ostenta níveis orçamentários gigantescos, como Campos dos Goytacazes, apresentou decréscimo populacional, ao contrário:

- A cidade que apresenta ela mesma níveis de empobrecimento que a compara ao sertão nordestino (IDH), e que é cercada por outras cidades em mesmo patamar, deveria ATRAIR gente e NÃO EXPULSAR gente...

Isso só pode ser explicado pela total falta de esperança dos mais jovens em permanecer em um lugar que parece não ter futuro algum, mesmo somando riquezas enormes...

O que assola Campos dos Goytacazes, além da desigualdade e da pobreza, é antes a POBREZA DE ESPÍRITO...

Ao final de séculos e séculos de exclusão, de total desconsideração dos mais desvalidos, de ausência completa de qualquer projeto coletivo de inclusão social, para além destes remendos chamados "programas sociais", e enfim, de eras e era da mais brutal concentração de renda, mesmo que esta renda tenha sido algo mais de 30 bilhões de reais nos últimos 25 anos, não sobrou nada...

Nem esperança, que por último, morreu...em Campos dos Goytacazes...

Parece que a única saída para Campos dos Goytacazes é a BR 101...


Douglas da Mata

 Inspetor da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (RJ)

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