Wladimir Matheus de Oliveira
e a solidão do poder no deserto de ideias...
(PARTE 2).
Se fosse um país, e de fato
Campos dos Goytacazes tem orçamento parecido com vários países da África, não
seria incorreto dizer que o pântano do norte fluminense estaria acometido da
"doença holandesa"...
Para quem não sabe, a
explicação corriqueira pode ser definida assim:
- Um país descobre uma
imensa riqueza (geralmente mineral), e passa à exploração deste recurso, sem
preocupar-se com as repercussões em sua economia, e por óbvio, apesar da
gigantesca riqueza inicial, esta entrada abrupta de recursos causa uma
apreciação cambial (o valor da moeda desse país sobe), dificultando exportações
(principalmente de produtos industrializados)...
Por outro lado, como
consequência desse primeiro processo, a indústria do país definha, deixando
este país à mercê dos preços internacionais dos itens de maior valor agregado
nas trocas internacionais...
Em suma, o país morre de
tanta riqueza...(mas as elites, por óbvio, ficam muito mais ricas, enquanto os
pobres, ah, os pobres vocês já sabem...)
Claro, Campos dos Goytacazes
não emite moeda, e não exporta nada...não é um país...
Porém, a comparação com a
historinha aí em cima é inevitável, já que a enorme bonança que (ainda) irriga
os cofres da cidade não trouxe nada, absolutamente nada como legado à população
e à cidade, especificamente aos mais pobres...
Pense rápido: o que de
importante, de realmente significativo e transformador na vida dos campistas, e
dentre estes, os mais pobres, aconteceu como resultado da montanha de dinheiro
dos royalties?
Eu não consigo lembrar de nada...
O desfile da Imperatriz
Leopoldinense tendo a então primeira dama
como destaque?
Ah, a frota novíssima e um
sistema de transporte público e um plano viário dignos de Amsterdã?
Recentemente, assistimos o
prefeito da cidade buscar os meios judiciais para brecar a diminuição dos
valores de repasses do Fundo de Participação dos Municípios, que é um dinheiro
que a União transfere às cidades com base em sua população...
Com os dados preliminares do
CENSO 2022, a cidade de Campos dos Goytacazes teve a quantidade de habitantes
rebaixada, logo, o repasse será menor...
Não entremos no mérito se
era correto a União reduzir agora, com os dados do CENSO ainda não
consolidados, ou se tem que ficar para depois, mas o fato é que a população da
cidade diminuiu...!!!!
Esta constatação é um
assombro, e como já mencionamos, se fosse um país, Campos dos Goytacazes
viraria "case" de estudos e teses internacionais e nacional...
Todo mundo sabe que as
populações das regiões ao redor do planeta diminuem por algumas questões:
- Guerras, pestes, tragédias
ambientais, etc;
- Pobreza extrema;
- Políticas governamentais,
como fez a China e;
- Enriquecimento médio da
população, já que sabidamente, países mais ricos tendem a ter sua taxa de
natalidade decrescente, como acontece hoje com a Europa...
Porém NUNCA, eu REPITO,
NUNCA uma região que ostenta níveis orçamentários gigantescos, como Campos dos
Goytacazes, apresentou decréscimo populacional, ao contrário:
- A cidade que apresenta ela
mesma níveis de empobrecimento que a compara ao sertão nordestino (IDH), e que
é cercada por outras cidades em mesmo patamar, deveria ATRAIR gente e NÃO
EXPULSAR gente...
Isso só pode ser explicado
pela total falta de esperança dos mais jovens em permanecer em um lugar que
parece não ter futuro algum, mesmo somando riquezas enormes...
O que assola Campos dos
Goytacazes, além da desigualdade e da pobreza, é antes a POBREZA DE ESPÍRITO...
Ao final de séculos e
séculos de exclusão, de total desconsideração dos mais desvalidos, de ausência
completa de qualquer projeto coletivo de inclusão social, para além destes
remendos chamados "programas sociais", e enfim, de eras e era da mais
brutal concentração de renda, mesmo que esta renda tenha sido algo mais de 30
bilhões de reais nos últimos 25 anos, não sobrou nada...
Nem esperança, que por
último, morreu...em Campos dos Goytacazes...
Parece que a única saída
para Campos dos Goytacazes é a BR 101...
Douglas da Mata
Inspetor da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (RJ)