segunda-feira, 19 de junho de 2023

Livro Economia Brasileira - Cap. 5 - Origens da indústria

 



 

A crise de 1930 e o avanço da industrialização brasileira                              

 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         

·       A GRANDE DEPRESSÃO

 

Foi uma crise econômica de abrangência mundial, responsável por abalar a estrutura do sistema capitalista no ano de 1929.

Ela perdurou até 1933. As suas consequências na sociedade da época foram devastadoras, sobretudo, no que diz respeito ao custo social gerado, onde vários países tiveram altos índices de desempregos. Importa salientar no ensejo, antes desta segunda depressão econômica, já havia ocorrido outra no período circunscrito de 1873 a 1896.

No caso específico do Brasil, a aludida catástrofe, facilitou o processo de industrialização da economia brasileira, porque acabou enfraquecendo a burguesia agrária nacional, dos latifundiários produtores de café e com grande influência na política do país.

Pois, o principal produto da pauta de exportação nacional, o café, teve o seu preço aviltado em função da retração da demanda agregada de bens e serviços, no cenário internacional. E, com isso, os fazendeiros amargaram expressivos prejuízos e muitas falências ocorreram.

O Brasil, então, passa a trilhar o caminho da implantação de indústrias, preliminarmente através da substituição de importação, dos bens não duráveis, como alimentos e tecidos, e posteriormente, evoluiu para os bens duráveis.  

 

·       A POLÍTICA DE DEFESA DO CAFÉ

 

Por conta da importância da economia cafeeira no Brasil, a Grande Depressão de 1929, afetou frontalmente o principal produto da pauta de exportação brasileira, o café.

O Brasil, respondia por ¾ das exportações mundiais dessas commodities, e o nosso maior comprador eram os Estados Unidos. 

Então, para manter a renda dos fazendeiros de forma que eles pudessem continuar investindo em mais produção. O governo praticava uma politica de desvalorização cambial, no momento em que os preços do café no mercado internacional entravam numa trajetória de queda.

Tal politica cambial favorecia o setor, e como consequência dela, problemas surgiu para a economia doméstica, devido a nossa enorme dependência dos produtos importados, eis que em face dessa conjuntura econômica de depreciação da moeda, ficaram mais caros.

Todavia, importa destacar, a principal dificuldade enfrentada pela cafeicultura do Brasil, residia na superprodução, pois mesmo o mercado mundial retraindo-se, no que tange a demanda, os produtores de café continuavam elevando sua oferta.

Em função desse contexto, a politica cambial praticada pelo governo, perdeu eficácia e o Estado, então, passou a implementar outro repertório de políticas, como por exemplo, a aquisição do excedente de produção, e por ultimo incentivou a queima da produção. Porque, os mecanismos de política pública de proteção do preço do café, já se encontravam no seu ponto de exaustão.

Por derradeiro, urge necessário deixar claro, a sociedade da época ou o Estado financiavam largamente, os lucros dos fazendeiros de café. Ou seja, a elite econômica dos latifundiários se apropriou do Estado em detrimento das políticas públicas, voltadas a sociedade.      

 

·       O CRESCIMENTO INDUSTRIAL DURANTE A GRANDE DEPRESSÃO

 

A Grande Depressão se configurou como oportunidade, de desenvolvimento da indústria nacional. Já que, a economia brasileira através do fortalecimento do mercado interno pôde elevar a demanda agregada dos bens e serviços. Apenas a guisa de lembrança, antes eles eram comprados do exterior.

Como decorrência do contexto de política macroeconômica, adotado pelo governo, de desvalorização da moeda nacional em face da internacional, as importações ficaram mais caras e as consequências foram à queda de 60% delas, que saíram do patamar de 14% para 8%. Tal conjuntura, não atrapalhou o processo de industrialização, no que diz respeito, as importações de bens de capital e nem inviabilizou o ritmo da oferta de produção industrial.

Pois, a indústria nacional sendo pressionada pela procura interna dos consumidores pelos seus produtos, encontrou uma saída de curto prazo, que pudesse mitigar o impacto da política cambial governamental.  Através da importação de máquinas e equipamentos, de segunda mão, tendo em vista que a Grande Depressão levou a falência de várias empresas no âmbito internacional. E esse fenômeno facilitou as aquisições.

A guisa de esclarecimento, o setor que mais adquiriu equipamentos do exterior foi o de tecido.

Para melhor explicação, sobre a dinâmica do mercado interno durante a crise de 1929 Furtado destaca:

 “(...) o fator dinâmico principal, nos anos que se seguem à crise, passa a ser sem nenhuma dúvida, o mercado interno. A produção industrial, que se destinava em sua totalidade ao mercado interno, sofre durante a depressão uma queda de menos 10%, e já em 1933 recupera o nível de 1929.” (Economia brasileira, pg.71).

 

·       CELSO FURTADO E O MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES:

 

Nesta seção Furtado, fortalece e reitera a relevância da Grande Depressão para o processo de industrialização brasileira. O que possibilitou, inclusive, o rompimento do modelo primário- exportador praticado há décadas no país no que se refere às relações comerciais com o resto mundo.

Com isso, a indústria nacional nascente aprofunda o processo de substituição das importações, cuja duração vai até o governo JK e o seu Plano de metas.

A economia brasileira em razão desse novo e ousado momento eleva a renda interna e passa também a produzir bens que nem eram importados anteriormente.

Assim, dispara Maria da Conceição Tavares, no Clássico Da substituição de importações ao capitalismo financeiro, segue basicamente as posições de Furtado, caracterizando a Grande Depressão como “o momento de ruptura com o modelo primário- exportador da economia brasileira em favor de um modelo de desenvolvimento voltado para o mercado interno. O conceito de substituição de importações, além de significar o início da produção interna de um bem antes importado, denota também uma mudança qualitativa na pauta de exportações do país.” (Economia brasileira, pg., 72 e 73).

 

·       O ESTADO NOVO E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

 

Getúlio Vargas, eleito indiretamente pela Assembleia Nacional Constituinte em 1934, cujo mandato terminaria em 1938. Resolveu em 1937 dar um golpe militar. Este período ficou caracterizado na história do Brasil, como a ditadura do Estado Novo que perdurou até 1945. Foram dissolvidos o Parlamento, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais.

Diante isso, o poder ficou centralizado apenas sobre uma pessoa, a do ditador Vargas. Que fomentou o desenvolvimento econômico brasileiro utilizando o Estado, como indutor.

Várias agências foram criadas, com o objetivo de regulamentar a atividade econômica. A ação estatal na economia ficou mais intensa e a inauguração da siderúrgica de Volta Redonda, marcou significativamente o aludido período.

Vivia-se nesse contexto, uma retração dos investimentos das grandes multinacionais nas economias consideradas subdesenvolvidas ou de capitalismo tardio, como a brasileira.  

Tal conjuntura reforçou ainda mais, o atual modelo desenvolvimentista de Vargas.

No que diz respeito às importações, “logo após o golpe de 1937, o forte aumento das importações – da ordem de 40% entre 1936 e 1937- provocou escassez de divisas e forçou o governo a adotar o monopólio cambial com uma taxa única descentralizada e com um sistema de controle cambial similar ao vigente entre 1931 e 1934.” (Economia brasileira, pag. 75).

E, ainda, importa salientar, somente após 1941 com o início da segunda guerra mundial, o Brasil entra numa trajetória onde a Balança Comercial começa a ter superávit, através da expansão das exportações aos países aliados. Outro aspecto relevante que também merece ressaltar relaciona-se a recuperação do preço do café.

Continuando, a despeito das importações terem reduzido, por conta da diminuição da produção industrial que entre 1939 /1942 cresceu somente 1,6% ao ano, voltou a crescer mesmo com a escassez de insumos e de bens de capital importados, como veremos abaixo:

A taxa de crescimento do produto industrial, que havia caído em 1937/39 para 6,5% ao ano, caiu em 1939/1942 para 1,6%. Entre 1942 e 1945, quando a escassez de insumos e de bens de capital tornou-se séria, a taxa média de crescimento foi de 9,9%, comparável à que se verificou entre 1933 e 1939.

O produto agrícola médio 1940/42 praticamente estagnou em relação ao de 1936/1939; a recuperação pós- 1942 fomos modestas, pois o produto agrícola médio de 1943/1945 foi apenas 8% superior ao de 1936/1939. Assim, a taxa de crescimento do PIB, que já havia caído a 3,5% ao ano em 1937/39, atingiu 0,4% ao ano em 1939/42, antes de recuperar-se para 6,4% ao ano em 1942/45. (Economia brasileira, pg. 76)

 

·       O PÓS-GUERRA E O CRESCIMENTO INDUSTRIAL

 

Despois da segunda guerra inicia-se no país, o governo Dutra e o seu ideário ortodoxo na economia, em contraposição ao intervencionismo de Vargas.

Nesse momento histórico os Estados Unidos se constituem no contexto geopolítico mundial como a potência capitalista dominante.

O governo Dutra, então, aproveita a oportunidade para implantar a sua politica cambial liberal, e com isso, tentar equilibrar o balanço de pagamentos brasileiro. A taxa de câmbio foi mantida praticamente com a paridade de 1939 (Cr$ 18,5/US$), e o mercado livre foi instituído, com a abolição das restrições e do controle do fluxo de divisas, por parte do governo central, existente desde 1930. (Economia brasileira, pg. 76).

Concomitantemente, a política macroeconômica acima, o governo Dutra, centrou fogo na inflação que estava em ascensão, chegando em 1944 a 20% e 15% em 1945. Utilizando, o receituário ortodoxo.

Todavia, em face da dificuldade de se manter a ortodoxia da política econômica, em 1947, o governo voltou a controlar o câmbio, enquanto o país enfrentava uma profunda crise de escassez de moeda estrangeira, sobretudo de dólares. “O sistema de licenciamento de importações reduziu o déficit comercial de US$ 313 milhões, em 1947, para 108 milhões, em 1948, resultando em um superávit de US$ 18 milhões. Com a recuperação do preço café no mercado externo, a partir de 1949, a balança comercial passou a apresentar superávits expressivos.”

Por fim cabe ressaltar, uma taxa de câmbio sobrevalorizada, a partir de 1947 e o controle cambial favoreceu sobremaneira o processo de substituição de importações, seguindo ainda de algumas medidas, como por exemplo: “subsídio às importações de bens de capital e bens intermediários; protecionismo contra a importação de bens competitivos; e aumento da rentabilidade da produção para o mercado interno.” Apenas, para acrescentar: a despeito da pouca importância do governo Dutra à industrialização, a política de crédito subsidiada do Banco do Brasil, ao setor industrial ajudou bastante a esse segmento relevante da economia nacional. “O crédito real à indústria cresceu 38%, 19%, 28% e 5%, nos anos de 1947, 1948,1949 e 1950, respectivamente. (Economia brasileira, pg. 77).     

 

 

 

 

·       Referências bibliográficas: 

 

1-  Lacerda, Antônio Correa et al. Economia Brasileira. São Paulo.  Editora Saraiva 2000.

 

 


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