SALDO LÍQUIDO DO EMPREGO DE JANEIRO A SETEMBRO- 2015/2016
Garotices
Arthur Soffiati
Garotinho não é um bom analista político. Ele mais justifica do que explica sua derrota para a prefeitura de Campos. Em seu blog, ele tenta justificar a vitória em primeiro turno de Rafael Diniz e a consequente derrota fragorosa de seu candidato Dr. Chicão, recorrendo as suas armas usuais: o ataque simplista e a vitimização. Ele, de modo simplista, diz que Rafael por ser, “neto do ex-prefeito Zezé Barbosa, conseguiu reunir em torno de si a velha política de Campos ligada às oligarquias que sempre tiveram contra o povo um enorme preconceito social e racial e uma juventude despolitizada, desejosa por mudanças. Além disso, sua campanha extraoficialmente teve forte financiamento empresarial”. Coloco suas palavras entre aspas para não dizerem que as distorço.
Senti, na vitória de Rafael, não o retorno da velha política, mas o entusiasmo popular que presenciei há muitos anos na vitória de um certo candidato chamado Garotinho em quem votei esperançoso. Ele se proclamou o candidato da mudança e acabou por criar uma dinastia formada por bajuladores com vontade reprimida e dissidentes que, embora rompendo com o faraó, praticaram a mesma política do velho cacique. Se Rafael representou hoje o que Garotinho representou no passado, espero que Rafael não enverede pelo mesmo caminho de formar uma oligarquia populista.
As eleições municipais de 2016, em Campos, tiveram um caráter plebiscitário. O que esteve em discussão foi: “Garotinho sim ou não”. Venceu o não. Dr. Chicão, de um lado, é uma boa pessoa e um bom profissional, mas não foi um bom candidato. Se Garotinho puxou sua orelha após a derrota, ele terá puxado a própria orelha e esbofeteado o próprio rosto. Em grande parte, Garotinho criou Rafael. Primeiro, isolando-o na Câmara de Vereadores com sua tropa de choque. Segundo, com sua política autoritária e, ao mesmo tempo, populista. De modo algum, deixo de reconhecer os valores de Rafael. Acho que ele foi o candidato ideal para derrotar o clã Garotinho. Fica difícil sustentar a falácia de que Rafael venceu com votos comprados, quando se nota que a vitória se deu em todas as zonas eleitorais com mais de 150 mil votos contra cerca de 80 mil de Dr. Chicão. Não dá pra comprar 70 mil votos nem na Velha República.
Garotinho invoca as políticas sociais implementadas por Rosinha, políticas essas que permitiram a inclusão das camadas carentes Isso é dever do governante, não um presente. Não cabia Rosinha declarar que ela não era obrigada por lei a criar o cheque cidadão. Ela também não era obrigada a construir casas populares em margens de lagoas. Aliás, era proibida a empreender construções nessas áreas. Ela era obrigada a observar a Lei Orgânica e o Plano Diretor, que foram ignorados nos seus oito anos de governo.
Além do mais, convenhamos, programas sociais podem ser usados para favorecer parceiros, mascarando-os de populares. O Ministério Público Eleitoral acusou o grupo Garotinho de favorecer aliados com o cheque cidadão e de fatiar o município entre eles. Acompanhei de perto o programa Morar Feliz e suspeitei muito da posição adotada pela Prefeitura e pela Odebrecht. A maior empresa do Brasil é representante da elite econômica do Brasil. Mas Garotinho e o PT não reconhecem isso. A mim, o programa Morar Feliz parece um bolo com a seguinte receita: favorecer os pobres dando-lhes casas de construção suspeita com uma rachadura que permite o escoamento de muito dinheiro que acaba nas mãos do grupo governante e da empresa construtora. Enfim, pode-se projetar programas sociais louváveis como dreno de dinheiro para a elite governante. Será que a época do “rouba mas faz” não terminou?
Em oito anos de governo, Rosinha não soube aproveitar os royalties do petróleo de modo a criar uma economia que permitisse o município caminhar sem eles ou dependendo menos deles. Realizou muitas obras desnecessárias. Emprestou muito dinheiro a espertalhões pelo Fundecam. Deixa um município cheio de problemas. Rafael receberá dívidas e escombros que não permitirão a ele avançar muito além da moralização da vida pública. Será preciso, inicialmente, tapar buracos. Além do mais, a oposição de Garotinho trabalhará para o seu fracasso. O período eleitoral, com suas passeatas, carreatas, abraços, beijos, foguetes, passou. Agora, é arregaçar as mangas e trabalhar. Devemos dar um crédito de confiança a Rafael, esperando que ele mantenha seu perfil ético e nunca trilhe o caminho de Garotinho