quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Seminário da UFF de Campos

 


Seminário da UFF – dia 17/10/2023

 

Disciplina: Desenvolvimento, Ambiente, Políticas Públicas, Conflito e Cidadania.

Professores: Jorge Natal e José Luís Vianna da Cruz 

Aluno: José Alves de Azevedo Neto

Texto: O RIO DE TODAS AS CRISES

 

Seção IV – A Outra Raiz da Crise – pg. 36

No imaginário carioca dois fatos foram responsáveis pela crise econômica e financeira do estado do Rio de Janeiro: a transferência da capital do país para Brasília e a fusão do antigo DF ao antigo ERJ.

Havia clima para fusão nos anos 70, sobretudo, por parte da classe empresarial que vislumbrava a possibilidade da junção entre a base técnica do antigo estado da Guanabara e os potenciais produtivos do antigo estado do Rio de Janeiro. (Araújo 1994: 235)

Tal otimismo decorria da crença de que o governo federal elaborando um novo desenho industrial desconcentrado para o país. Reduziria a importância da indústria paulista no contexto nacional e simultaneamente, elevaria a importância da indústria no novo estado na região Sudeste.

E, por fim, esse mesmo empresariado particularmente o carioca, considerando o conservadorismo político do outro lado da baía (Niterói), ao reforçar a estratégia geopolítica geiselista de distenção lenta, segura e gradual (Lessa 1978), dado o mencionado ônus econômico do município sede, em razão da transferência da capital federal para Brasília, achavam que o governo federal iria compensar o município sede com incentivos fiscais.

O que dava certeza a classe empresarial dessa possiblidade, eram alguns indicadores importantes no estado, como por exemplo: obras concluídas e anunciadas tocadas com recursos federais, como: Ponte Rio Niterói, Porto de Sepetiba, Usina de Angra dos Reis, Rio-Santos, Novo Galeão, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), fortalecendo, com isso, o diagnóstico da classe empresarial.

A euforia da classe empresarial era ilustrada pelo fato do município sede, na primeira metade dos anos 70, possuir vocações importantes, no que tange ao aspecto financeiro, polo industrial de ponta e ser provedor de serviços. Eles alimentavam a certeza de que esse cenário seria levado adiante pelo governo federal, através de ajudas financeiras, compromisso assumido com a nova unidade federativa. Em face disso, o governo federal não deixaria tal estrutura morrer. Ademais, o Brasil vivia sob o signo do Brasil potência e da ideologia desenvolvimentista.

O que contribuiu para tal otimismo também foi que a crise financeira e fiscal da União ainda não era visível. Porém, a implantação da fábrica da Fiat em MG e a saída da IBM do RJ, acordou o empresariado.

Todavia, essas duas perdas acenderam as luzes amarelas e anunciaram o por vir. Assim, na entrada dos anos 80 as luzes vermelhas acenderam de vez.

Marca-se aí, o fim do relativo otimismo dos anos 70 para o fim do ufanismo oficial, e nasce agora o discurso formulado por parte do empresariado que atribuiu à crise a falta de uma consciência regional que aglutinasse as elites em torno de um projeto comum de desenvolvimento (Araújo 1994:247).

E, assim, a crise foi reconhecida, e se afinou uma tese, de que ela derivaria da falta de capacidade das elites (quais?) em situarem o RJ (o estado ou MS?) como uma questão regional específica. Começa a nascer então o desejo do regionalismo.

Não surpreende que os empresários ainda consideravam a causa da crise, a perda da capital para Brasília e a fusão, concentrando suas análises e proposições nas lutas pelos fundos públicos federais.

Por conta das cobranças frustradas de caráter patrimonial ao governo federal passam doravante a culpar, como os grandes responsáveis pela crise, outras elites, em especial a política e governantes, de antes e daquele momento.

Enfim, pode-se dizer, no final dos anos 70 e início dos 80, constituiu um ensaio geral das lutas de classes que se seguiria, maquiada pelo mote do estado-região. Aqui mais uma vez se confirma o traço regionalista da classe empresarial.  

Ser sede do país ajudou o RJ, a pousar de não regionalista, tendo em vista a fama de que o carioca só se preocupava com as grandes questões nacionais, o que em parte era verdadeira, certamente não era na sua plenitude, tanto que quando a crise se instalou com toda virulência veio à cena social, o regionalismo ainda que pouco orgânico.

 

IV. 2- ainda a história recente e a elaboração discursiva de classes

Neste contexto é criado o Instituto de estratégias do Estado do Rio de Janeiro, o Clube do Rio. Sua missão era articular o empresariado fluminense, criar uma ideologia e atuação de base regional: no seu âmbito surge à tese do estado-região, elabora-se o discurso do esvaziamento econômico, enquanto obra política.

A despeito deles defenderem a economia do estado, na prática eles defendiam os interesses dos empresários da capital, principalmente do município sede.

As propostas eram criar uma bolsa de mercadorias na cidade do Rio, estabelecer diretrizes que garantissem o segundo lugar no cenário nacional da indústria do Rio no município sede e incentivar a atração de conglomerados financeiros.

Segundo Natal tais propostas não tinham como obter êxito. O objetivo delas eram a defesa dos interesses de seguimentos do empresariado, com destaque para o comércio, finanças e indústria naval do município sede.

Com o aprofundamento da crise dos anos 80, a eleição de Brizola e de João Donato na FIRJAN, o Clube do Rio promoveu seminário sobre as vocações econômicas do RJ, leia-se município sede.

Na verdade em face do novo quadro político, econômico e institucional, eles queriam emparedar o governo federal e estadual em busca de vantagens pecuniárias, olhando sempre os seus interesses. E, posteriormente, fazer o sucessor de Brizola, Moreira Franco, alinhado com os interesses da classe.

O diagnóstico estava errado e no governo de Moreira Franco a crise refluiu. E em 1988 veio o golpe fatal, que foi a manifestação da intenção de transferência das instituições financeiras, agências sediadas na região fluminense para São Paulo.

 

IV-2-1 – Sobre a história recente e as aproximações discursivas de classes; escapismos, escapismos e escapismos.

 Surgem os escapismos socialmente construídos:

     A vocação natural do estado para centro financeiro. Os empresários não entendiam as mudanças que vinham ocorrendo na economia brasileira e a consolidação de São Paulo como centro industrial e financeiro desde 70. Eles culpavam a classe política do estado pelas perdas, sobretudo da Bolsa de Valor. Achavam que a intervenção política junto aos grandes grupos financeiros ajudaria reverter à saída das aludidas empresas.

  A segunda foi à vocação turística. Os empresários do setor invocava a violência urbana para justificar a perda de dinamismo econômico do setor.

A terceira. Diz respeito às perdas financeiras do Rio, elas decorriam da transferência da capital para Brasília, junta-se a isso, a fusão como golpe fatal na autoestima da população do município sede “como assumir uma identidade que não corresponderia os fatos, de passar a ser fluminense quando historicamente se foi carioca”. Então, no imaginário da sua população, e não apenas da sua elite, permanecia sendo o Rio Cidade.

     A quarta enquanto desdobramento da anterior. A incompetência dos governos e lideranças políticas estaduais que não sabia se mover no terreno movediço das guerras dos recursos fiscais de natureza federal, ou seja, a obtusidade política ideológica que jogava o poder central contra os interesses do Rio.

 

Considerações finais:

I-que a crise da sociedade fluminense de 82 a 94 foi longeva, profunda, complexa, evidenciada nas várias expressões da vida social fluminense;

II-que a degradação econômica da região fluminense se iniciou no final do século retrasado e simultaneamente emerge uma verdadeira economia e sociedade capitalista em São Paulo, com sua teia de articulações econômicas para frente e para trás;

III – que a degradação econômica do ERJ está no modelo econômico frágil adotado e afiançado pelos empresários, em face de outros estados;

IV- e o discurso Rio como voz da nação foi largamente empregado em nome dos interesses patrimoniais;

V- a perda da capital da república, apenas, agravou uma crise histórica de fragilidade da economia fluminense.

 

Referências bibliográficas:

·       Natal, J. Texto Rio de todas as Crises.

 

 

 


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