Contribuições para a atualização da discussão sobre Desenvolvimento Local / Regional
O processo evolutivo da metade do século passado, com foco na revolução verde, mostrou que o problema na agricultura perpassava a capacidade de produção, e ia ao encontro das dificuldades de distribuição e acesso das pessoas aos alimentos produzidos. Identificou-se, então, a falta de uma visão sistêmica em relação ao processo, além da falta de capacidade técnica e econômica dos países não desenvolvidos.
Joseph Schumpeter, em 1942, já observava que os negócios entravam numa fase de transição pela via das inovações, através de alterações nos processos de produção, mudança de mercado, diferenciações de matérias primas e modernos tipos de organização. Este ambiente decretava o processo de destruição criadora com predominância dos mais fortes, característica da competição darwiniana no mercado – “só os maiores, mais fortes e mais eficientes sobrevivem”.
O avanço do debate orientou para a incapacidade dos modelos de intervenção governamental keynesiano e neoliberal de mercado, na solução do problema de redução da desigualdade socioeconômica.
Consequentemente, as experiências empíricas das últimas décadas deixaram um aprendizado importante sobre estratégias de reorganização produtiva com base no paradigma institucional, a exemplo dos Distritos Industriais Marshallianos, Triple Helix, Desenvolvimento Regional Endógeno, dentre outros.
O aprendizado oriundo dessa trajetória é importante para uma melhor análise das ações públicas no âmbito do território fluminense, em direção a evolução da dinâmica econômica local/regional. Mais especificamente, sobre as notícias de captação e aplicação de recursos públicos para a construção de um Centro de Abastecimento de Produtos Agropecuário em Campos dos Goytacazes-RJ. A expectativa é de que a infraestrutura disponibilizada se caracterizará em um elemento motivador do investimento com segurança para o produtor rural.
Observando a trajetória agrícola do município nos últimos dez anos (2012 – 2022), pode-se identificar uma retração de 37,55% na área colhida de lavoura temporária e permanente e um leve crescimento monetário real de 7,71% do valor da produção no mesmo período.
Na atividade pecuária observa-se um crescimento de 11,15% no estoque de rebanho de corte e uma queda de 45,12% no plantel de vacas ordenhadas, enquanto a produção leiteira apresenta uma retração 11,53% no mesmo período. Apesar do avanço da produtividade, com o município atingindo uma produção de 1.313,83 litros vaca / ano em 2022, o mesmo volume ficou abaixo da média de produção da região Norte Fluminense que atingiu 1.325,72 litros / vaca no mesmo ano.
De forma evidente o setor tem dificuldades no campo competitivo, já que apresenta uma estrutura composta por pequenas propriedades, cujos obstáculos são reais em termos de investimento, escala, crédito, tecnologia, comercialização, gestão, etc. A organização microeconômica predominante é um complicador não observado pelos gestores.
Esses elementos levam a uma leitura crítica de que, ainda hoje, predomina uma visão econômica já questionada há mais de meio século. A infraestrutura pública é fundamental, mas não pode ser tratada isoladamente, e sim, integrada a outros elementos no contexto do planejamento estratégico para o desenvolvimento socioeconômico.
Desta forma, o pensamento sobre a evolução do setor agropecuário exige considerar os apontamentos dispostos no inicio desse texto. É necessário fomentar o avanço na estrutura de capital social, condição essencial para a cooperação e reciprocidade, assim como, formular planos para a ampliação da oferta agregada. Esta, por sua vez, depende de informações confiáveis sobre a demanda, da competência da governança instituída, do comprometimento do gestor público e, de sua participação efetiva, no processo de integração com a universidade e o agente produtivo na construção do arranjo institucional.
Conclusivamente, é importante ratificar que ações isoladas, como as experiências presentes, são frágeis e dificultam os resultados exitosos que exigem, por sua vez, planejamento participativo, visão sistêmica e efetivo comprometimento dos agentes envolvidos.
Professor Alcimar das Chagas Ribeiro, economista e Diretor do NUPERJ – UENF