quarta-feira, 26 de abril de 2023

Livro Economia Brasileira – Cap. 2 – Os ciclos econômicos

 



 ·        A produção açucareira

 

O primeiro ciclo econômico do Brasil ocorreu no período de XVI a XVIII, baseado na produção açucareira, quando este se transformou no eixo econômico da economia colonial. Antes havia ocorrido a exploração econômica do pau-brasil. 

Assim que chegaram ao Brasil, os portugueses tiveram que estimular os colonos a produzirem na agricultura. Em face da necessidade de superar as dificuldades da zona tropical, era necessário lhes oferecer grandes propriedades de terra, como recompensa pelo grande sacrifício.

A produção açucareira era realizada através da mão de obra escrava proveniente da África, por ser mais produtiva ela substituiu a mão de obra nativa. Tal fenômeno ocorreu de forma mais rápida na região Nordeste, principalmente, na Bahia e Pernambuco, onde se deu as primeiras produções. O açúcar fabricado nessa região se destinavam as exportações para o continente europeu. 

Com a entrada no mercado internacional do açúcar produzido na América Central e nas Antilhas no século XVII, o mercado do açúcar ficou mais competitivo, comprometendo, a produção brasileira do império.

O que obrigou os produtores locais a diversificarem a produção canavieira que até, então, constituía-se numa monocultura. A partir dessa conjuntura começa-se a produzir tabaco baiano em função da sua grande receptividade no mercado europeu e por ser um produto aceito no escambo de escravos. A sua decadência ocorreu no século XIX em função da proibição do tráfico negreiro.

 

·       O Ciclo do Ouro

 

Com a derrocada do ciclo do açúcar ganha corpo uma outra atividade na economia colonial brasileira, a do ouro na região de Minas Gerais. Responsável por atrair pessoas em busca desse precioso metal, juntamente com a classe dominante. Logo de imediato, quem descobriu essas riquezas foram os espanhóis.

O ouro acabou ocupando o lugar da economia açucareira, no período de dois séculos, principalmente, no XVIII. Entretanto, importa salientar, a despeito da importância da produção aurífera, ela não produzia o montante igual ao do ciclo anterior. 

A mão de obra utilizada ainda era a de escravos. Porém, havia diferença a respeito dela quando comparado aos escravos do ciclo do açúcar. Eles agora passariam a ter pequenas regalias, como por exemplo, juntar riquezas em ouro para conquistar a sonhada liberdade, junto ao governo imperial.

A exploração das riquezas das reservas mineiras aumentavam todos os dias e nesta esteira crescia também o controle dos colonizadores, através de regramentos, regimentos decorrente da Intendências de Minas, uma espécie de administração especial da Coroa.  Com isso, surgiu a elevação dos impostos cobrados dos produtores, o denominado quinto sobre a quantidade de ouro produzido.

Em face dessa escorchante taxação, surgiu no contexto, o movimento denominado de Inconfidência Mineira, composto de colonos inconformados com a apropriação da renda da extração do ouro, pelos portugueses.

Chega-se, então, a decadência da mineração brasileira no século XVIII. Apesar de uma atividade efêmera ela ocupou papel de destaque na história da colônia, enquanto perdurou virou o foco das atenções e expandiu em detrimento de outras atividades. No período a população mineira aumentou e outras atividades econômicas assessórias emergiram como a pecuária e a agricultura, no Centro-Oeste de Minas Gerais.  Apenas a guisa de informação final, “uma outra preciosidade explorada a época foram os diamantes. O brasil tomou o lugar antes ocupado pela Índia como grande produtor de diamantes, para, posteriormente, perdê-lo para a África do Sul, onde ocorreriam descobertas de grandes jazidas dessa pedra." (Economia Brasileira, pg. 20, 2000)   

 

·       O Renascimento agrícola

 

Com o florescimento da mineração a agricultura atravessou uma fase de decadência, como vimos anteriormente. Fenômeno oposto ocorreu no século XVIII, eis que com o advento da revolução industrial a agricultura voltou ao cenário de relevância, agora, no que tange  produção de algodão.  

Por conta da dificuldade da China em atender a demanda do mercado de produção de tecido e a aliança entre Portugal e a Inglaterra, este último sede da revolução industrial. O Brasil foi favorecido nessa conjuntura em decorrência das suas vastas terras ociosas e virgens.

Surge, assim, a oportunidade da economia brasileira de produzir algodão e expandir o comércio exterior  retornando, ao mercado internacional. No ensejo, importa salientar que, o algodão tem sua origem nos Estados Unidos.

Em face dessa nova realidade histórica, do Pará ao Paraná, passando por Goiás, chegando até o  Rio Grande do Sul, tais regiões se transformaram em grandes produtoras de algodão.   

Outras mercadorias, também voltaram a ter importância econômica, como por exemplo, o açúcar no Nordeste e o cacau na Bahia. E se insere   nesse contexto a região de São Paulo.

Por fim, ressalta-se, todavia, o café proveniente da Abissínia, e tendo ainda, irrelevância econômica no país, devido ao protagonismo do açúcar, passou na segunda metade do século XVIII, a ser o grande produto da pauta de exportação nacional. Com os Estados Unidos assumindo a posição de nosso maior comprador.

Como discorre abaixo Caio Prado Jr. :

 

Os Estados Unidos, grandes consumidores de café, voltar-se-ão (...) para os novos produtores (...). Em particular o Brasil, favorecido além do mais, com relação a eles pela sua posição geográfica. A produção cafeeira encontrará nos Estados Unidos um dos seus principais mercados; em meados do século, quando o café se torna grande artigo de exportação brasileira, aquele país absorverá mais de 50% dela. E esta porcentagem ainda crescerá com o tempo.   

 

·       Entraves à consolidação do capitalismo

 

Um dos grandes problemas da economia capitalista diz respeito à formação do mercado interno. Foi exatamente o que deixou de acontecer na economia colonial brasileira açucareira. Não conseguimos formar um mercado interno, que possibilitasse a criação de uma base industrial.

O açúcar produzido na colônia era direcionado ao mercado externo ou internacional. A renda auferida da venda dessa relevante commodities retornava a Europa, agora, através da importação de bens e serviços industrializados.   

Essa relação de retorno da renda acabou enriquecendo, ainda mais, o seleto grupo de colonizadores e comerciantes. E o pior, a economia brasileira não logrou êxito substantivo que fossem responsáveis por inaugurar uma nova era e criar uma relativa independência econômica da Europa.

Ao contrário, entramos e saímos dos ciclos econômicos, com a marca de uma economia subordinada aos centros hegemônicos do capital. Mantendo, em face desse cenário, uma massa humana na sua maioria escravizada e sem a capacidade de formar um mercado consumidor que pudesse montar uma base capitalista interna, nos moldes das grandes economias desenvolvidas da época.

No ensejo, destaca-se, por sua vez, a economia mineira no contexto colonial foi a mais propícia no que tange a formação de um mercado interno local. A despeito, do ciclo do ouro ter sido menos lucrativo do que o do açucareiro. O simples fato de Minas Gerais está afastado do litoral, permitia a produção de alguns bens que eram supridos em outras regiões da colônia, pelos produtos importados.                                                                                                                                                                 

Com isso, o Brasil adentrou no século XIX, na condição de economia da periferia do capitalismo, incapaz de aproveitar os três ciclos econômicos de riquezas gerados na colônia e convertê-los em desenvolvimento econômico e social. Sua passagem de uma era para outra – de colônia para estado- nação, seria carimbado pela permanência do atraso estrutural vivido pelo maior país do continente sul- americano.

Registra-se, também, no século XIX chegou ao Brasil à família real portuguesa em fuga, por conta das guerras napoleônicas. Antes deste episódio histórico, Portugal perdeu a sua hegemonia política para a Espanha, e ocorreu sucessivamente, o seu enfraquecimento econômico, onde até a presente conjuntura ele dividia com os holandeses no território brasileiro, as vantagens financeiras do ciclo açucareiro.

Por derradeiro e sem mais delonga, devido ao seu enfraquecimento político no âmbito internacional, Portugal, se vê obrigado a se aliar a Inglaterra. E o Brasil, em face dessa aliança experimentou novamente, uma nova sangria das suas riquezas, doravante, pelos ingleses através da família real, já instalados no território brasileiro.      

 

·       Referências bibliográficas: 

 

1-   Lacerda, Antônio Correa et al. Economia Brasileira. São Paulo.  Editora Saraiva 2000.

 

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