POEMA
Por C. Alfredo Soares
Parte de mim ruma ao infindo.
Aquilo que permanece perene e sem fim.
Parto meu coração em pedacinhos, feito sementes que brotam ao cair no
chão fértil. Parte para o além mar, além do depois daquilo que imaginei, enfim.
Parto sorrindo, indo sem olhar pra trás. Vai e se acha onde nunca me
encontrei. Não é daqui, nem de lá. Volta quando quer e der. Parece saber onde
está enterrado seu umbigo, por isso não liga se parte, pois vai em parte e
volta inteira.
Viaja e descortina a vida. Limpa os olhos e a mente com novas lentes,
mais potentes dos que a ponho sobre os olhos. Manda notícias e fotos sempre
sorridente. Faça frio ou sol quente. Me chama pra ir, como se alcançasse a
compreensão de que toda parte é um todo posto a navegar e germinar novas partes
de um baobá velho de raízes profundas que com inúmeros braços, estendidos sobre
a terra, que abraça sem apertar, perpetua sua linhagem certo de que sendo
fração caminha pela terra se transformando em muitos por aí.
O vento sopra forte, as sementes caem no chão e são varridas pra longe,
levando as folhas num outono de mim. A eternidade cultivada em atos de coragem
renovada a cada dia.
A gente passa, as sementes ficam.
Semeaduras aradas em outras terras. Parte de mim é detalhe. Eu agora
sei.
O todo são fragmentos que criamos sem perceber. Dói feito parto do
rebento que chega berrando e fazendo chorar de emoção. A gente ama e se derrama
até quando escapa e se esparrama por aí… mar adentro, mundo afora respirando
outros ares.
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