quarta-feira, 4 de setembro de 2019

O tempo dos sem tempo



O tempo dos sem tempo




Vive-se, na atual conjuntura, numa sociedade em que as pessoas estão, categoricamente, sem tempo para dar atenção ao seu semelhante. Inclusive aos seus próprios familiares. Tornou-se uma coisa fugaz as relações entre elas de um modo geral. Ninguém tem tempo para ninguém no mundo presencial. As pessoas adormecem e acordam ligadas ao seu inseparável celular, que virou, no caso da maior parte dos seres humanos, o amigo inseparável. Afinal de contas há gosto para tudo.

Este modo de vida vem ocorrendo, em virtude, obviamente, da correria produzida pelo mundo contemporâneo fermentado pela tecnologia das redes sociais, cujo intuito seria o de melhorar as relações sociais. No entanto, o seu uso distorcido, acabou por gerar um problema psiquiátrico, um vazio humano, um excesso de materialismo e, como consequência, crescentes problemas emocionais como, à guisa de exemplo, a infernal depressão, doença que vem matando dia a dia algumas pessoas, que se utilizam das redes sociais de forma desregrada.

Este fato atinge, especialmente, a juventude que não consegue mais tempo entre a juventude, de articular uma boa conversa. Àquela em que se perdem horas construindo uma grande amizade ou cultivando-a. Até porque, nesses tempos bicudos, a palavra tempo tornou-se exígua na praça, ou no mercado, para se usar uma expressão da modernidade.

A regra, doravante, se transformou nas ilusões das postagens, seja a do Facebook, seja a do Instagram, seja a do Twiter, seja a do Whatsapp ou de outras redes do ramo. As conversas passam obrigatoriamente por essas mídias. Perdeu-se a capacidade da interface entre as pessoas, o olho no olho. Se alguém faz aniversário, manda-se uma mensagem, se alguém faleceu, também envia-se uma comunicação online de condolências. Na verdade, instituiu-se uma nova forma de as pessoas se relacionarem. Se é bom ou ruim, ainda não se sabe. Os estudos dos especialistas estão em processo de amadurecimento.

O que se tem conhecimento, efetivamente, sobre os resultados de algumas pesquisas de psicólogos e de outros profissionais da área médica acerca sobre do crescente diagnóstico da doença da depressão, que tomou conta da imensa maioria da sociedade mundial, acompanhada de índices alarmantes de suicídios. Segundo os estudos desses profissionais, as pessoas estão mais vazias, sem perspectivas no seu campo de trabalho.

Os relacionamentos a cada dia pioram e elas ficam mais ausentes do seu mundo real. Ligadas inteiramente nas fotografias das redes socais, espiando o que o outro está fazendo. De certa forma, esse comportamento se revela numa falta extremada de sintonia consigo mesmo, ampliando, por sua vez, o vazio interno e, o pior, o sofrimento da alma.

Acho que a sociedade grita por socorro. Só que, dentro desse contexto, dificilmente, encontrará eco no seu alarido, em razão da grande maioria dos seres humanos estarem indiferentes ao sofrimento alheio e imersos nos acontecimentos rasos da rede social. E o tempo para dar atenção ao outro? Ah! Infelizmente, vive-se no tempo dos sem tempo.  


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