O BODE NA SALA
O BODE NA SALA
Afinal o que está acontecendo, o Brasil está ao contrário e ninguém reparou? Ou as idéias não correspondem aos fatos? Daí que, que em pleno carnaval diversas Escolas de Samba (a campeã Mangueira) e blocos de rua resolveram escancarar as críticas necessárias que a mídia nativa busca esconder, em relação à histórica incapacidade de nossa nação satisfazer as necessidades básicas da maioria da população. Tudo isso, num dos países mais desiguais do planeta, com uma pobreza (material/cultural) totalmente evitável, que reduz a expectativa de vida de milhões de pessoas.
Na véspera da folia de momo, o IBGE divulgou as estatísticas do comportamento rastejante da atividade econômica, já pelo segundo ano consecutivo e após uma recessão que reduziu em 10% a renda per capita, entre 2014 e 2016. Inacreditável!
O “desenvolvimento” econômico tupiniquim baseado na depredação ambiental (vide Brumadinho) e no escravismo foi, historicamente, perverso e exacerbou as desigualdades regionais. O desempenho medíocre, inacreditavelmente, fortalece o controle da elite sobre os recursos naturais e as instituições políticas (monopolizadas pela plutocracia do dinheiro). Daí o nível, a composição e a distribuição do investimento, da geração de empregos, do comércio exterior, das finanças (públicas e privadas) e do produto nacional. O capital fictício/especulativo comanda a orquestra. Lembra os minutos finais do Titanic, onde o barco já afundava e ninguém percebia.
Sob o manto do carnaval e do verniz da integração e da cordialidade supostamente presentes na cervejinha, no samba e no futebol perdura a exclusão e a violência cotidiana. Outra estatística do IBGE revela um contingente de desempregados de quase 13 milhões de chefes de família e um salário médio recebido por quem ainda está empregado equivalente à metade do salário mínimo necessário para uma família de quatro membros - calculado pelo DIEESE.
A onda de ataque aos direitos sociais (CLT e Previdência Social) limita a expansão da cidadania e escancara a lógica excludente, Deteriora as condições de vida e do trabalho da maioria e fomenta ainda mais a concentração da renda, em nome da “austeridade” e do pagamento, rigorosamente em dia, dos encargos da dívida pública.
Abstraindo-se cada vez mais de seu papel transformador, o Estado brasileiro (cada dia mais conservador) garante apenas as relações de dominação - reproduzindo o modo de exploração e preservação dos padrões de desigualdade de renda, riqueza e privilégio - independente do desempenho econômico da oitava economia em escala planetária.
Daí que nossa elite dirigente não consegue planejar de forma adequada a expansão da capacidade produtiva, a infraestrutura econômica, social e ambiental, ou desenvolver novas vantagens competitivas e nem garantir o financiamento de longo prazo suficiente para sustentar o necessário crescimento acelerado, perfeitamente possível mediante nosso mercado interno e nossas riquezas naturais. Uma tragédia. Reagir é a senha.
Ranulfo Vidigal – economista.
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