A evolução da agricultura em Campos dos Goytacazes
Como contribuição a um melhor entendimento sobre o setor agrícola em Campos dos Goytacazes, mostramos, nessa discussão, a trajetória evolutiva da área colhida em hectare e do valor monetário nas atividades temporárias e permanentes, entre os anos setenta, até o presente momento.
Conforme podemos observar, em 1974 Campos dos Goytacazes apresentava uma participação de 33,62% do total da área colhida no estado do Rio de Janeiro, enquanto a participação relativa do valor monetário era 28,02%, portanto 5,6 pontos percentuais abaixo da participação da área colhida.
A Participação em área colhida sofreu poucas varições até 2010, caindo mais fortemente nos anos posteriores até 2016 quando atingiu 24,74%. Já a participação do valor monetário começou a perder espaço na década de oitenta. Em 1980 a participação monetária atingiu 30,35% deteriorando ao longo dos anos até atingir somente 6,37% em 1990. Nos anos noventa houve um esforço de recuperação chegando a uma participação de 16,54% em 2000 e voltando a perder força nos anos seguintes, até chegar 7,72% de participação relativa em 2016. Nesse ano a diferença foi 17,02 pontos percentuais entre a participação em área colhida e participação do valor monetário, tendo como base o estado do Rio de Janeiro.
Ampliando a análise, passamos a observar a participação relativa da cana de açúcar no total das lavouras em Campos dos Goytacazes.
Em 1974 a participação da cultura em área colhida era 90,80% e a participação relativa monetária era 90,75% no município. Podemos observar uma evolução da participação do valor da cultura acima da participação da área colhida nos dez anos seguintes. A partir de 1985 começa a ocorrer uma inversão e a participação do valor monetário caiu para 87,16% em 1990, enquanto a participação da área colhida da cana-de-açúcar avançou para 95,99% no município. Nos anos seguintes até 2016 a participação do valor das atividades seguiu a mesma trajetória da participação da área colhida, porém em um patamar abaixo, indicando desvalorização da cultura.
Com base nesse contexto, a nossa conclusão é que, durante quatro décadas, o município ficou totalmente dependente da acana-de-açúcar, sem nenhuma preocupação com as outras culturas que, apesar de importantes, ficaram invisíveis. Nem a retração da área colhida da cana-de açúcar de 111.013 hectares em 1974 para 30.000 hectares em 2016 incentivou a busca de alternativas para o setor. Hoje, a cana-de açúcar ainda tem uma participação de 97,85% na área colhida total do município, enquanto a participação do valor monetário equivale a 91,50% do valor total de todas as culturas internamente.
Reverter essa situação é possível somente no âmbito do longo prazo, com planejamento, conhecimento científico, comprometimento, visão de território e cadeias produtivas, colaboração e envolvimento comprometido do governo. Só com discurso não chegaremos a lugar nenhum.